Temos percebido ultimamente, em algumas comunidades do Facebook, diversas discussões e reclamações sobre situações onde o stop configurado não é disparado ou sua ordem não é executada, ou seja, o stop pula.
A mesma situação se repete em relação ao spread entre o preço de disparo configurado pelo usuário e o preço executado. Esse tipo discussão acaba aumentando em períodos de maior volatilidade, como foi o caso recente da eleição americana.
Por isso, decidimos apresentar algumas informações relevantes sobre estas situações, permitindo que suas estratégias e gerenciamento de risco as leve em consideração.
Basicamente, quando falamos de stops nos referimos a um tipo de ordem que fica FORA DO LIVRO de ofertas. Quando o mercado atinge o preço de disparo configurado pelo usuário, estas stops são submetidas às validações das regras de risco da corretora, às validações da BM&FBovespa e a partir daí é que podem ir para o livro de ofertas. Somente a partir deste momento é que estas ordens ficam passíveis de execução.
Dados estes fatos, vamos a algumas constatações importantes:
Quanto ao local do armazenamento do stop:
Dependendo da plataforma e/ou corretora, o stop pode ficar armazenado em 3 “lugares” possíveis:
a) Na máquina do usuário: esse tipo de stop fica armazenado na plataforma na máquina do usuário, e normalmente depende que a plataforma esteja em execução para que o stop seja disparado. Ou seja, se a plataforma estiver fechada e o mercado bater no patamar do disparo de um determinado stop, o mesmo não será disparado. É natural que essa localização do stop seja a mais arriscada e ao mesmo tempo a que possui maior latência para disparo e chegada até o livro de ofertas da bolsa.
b) Na BM&FBovespa: esse tipo de stop é enviado diretamente para a BM&FBovespa, quando o usuário “coloca” o stop. Porém só vai para o livro de ofertas quando o preço de disparo é atingido. As validações de aceite e disparo destes stops são gerenciados pela própria Bolsa.
c) No servidor/OMS da corretora: esse tipo de stop fica salvo no servidor/OMS da corretora e vai para o livro de ofertas da Bolsa quando a cotação atinge seu preço de disparo. A latência de entrada no livro de ofertas vai variar em função principalmente da infraestrutura da corretora (capacidade de processamento e local da hospedagem) e da qualidade do seu OMS. Corretoras que hospedam sua infraestrutura em “proximity”, possuem uma latência muito boa. Ou seja, a ordem gerada pelo stop vai para o livro de ofertas muito rápido.
Esse tipo de stop costuma ser bastante utilizado, pois além de ter uma latência baixa, é através dele que abordagens mais elaboradas de stops são obtidas. Ex: stop móvel, simultâneo, auto breakeven, OCO, OTO, etc. Os stops disponibilizados pela BM&FBovespa não dão suporte a esse recursos.
Quanto à configuração correta do preço de disparo e preço limite do stop:
Primeiro, vamos à definição:
a) Preço de disparo: é o valor informado pelo usuário que define em qual situação o stop entrará no livro de ofertas. Ou seja, quando o patamar da cotação atingir o preço de disparo, o stop se transforma, por exemplo, em uma ordem limitada, e nesse momento entrará no livro de ofertas da BM&FBovespa.
b) Preço limite: é o valor que, de fato, entrará como preço da ordem que vai para o livro de ofertas.
Definidos estes dois importantíssimos parâmetros que o usuário deve configurar em seus stops, vamos tornar transparentes algumas características pouco lembradas que influenciam na performance do trader:
O stop NUNCA vai diretamente para o livro de ofertas. Isso deve ser lembrado em todos os momentos.
Dada essa característica, você ficará 100% dependente da liquidez do mercado na hora que seu stop for disparado. Independente da qualidade da sua plataforma e da sua corretora, bem como a configuração do computador e link de internet, se a liquidez do mercado não for prevista na hora de montar sua estratégia de trade, você correrá risco do seu stop ser disparado, e ficar no livro de ofertas sem executar.
Veja um exemplo no dia 14/11 as 09:11 ( mercado variou em 1 minuto, 520 pontos ):
Agora vamos analisar uma pequena parte dos Negocios ( Times And Trades ) desse minuto:
Obs.: Pegamos apenas parte de 1 segundo e agrupamos por agressor ( UBS ).
Veja que apenas com uma “boletada”, o UBS agrediu o mercado fazendo com que a cotação fosse direto do 59.250 ( último negócio antes do primeiro de 59.240 ) para 59.205.
Agora imagine que o usuário tenha colocado um stop com disparo no 59.240 e o preço limite em por exemplo: 59.235. O que aconteceria ? O stop teria disparado, mas não seria executado, pois o UBS consumiu de uma vez, toda a liquidez da compra até o 59.205. Muitos entenderiam que o Stop pulou, mas nessa situação, não houve problema da plataforma ou corretora. Simplesmente não haviam compras para fechar o negócio e se o mercado continuasse caindo, o prejuízo do usuário seria muito maior do que o planejado por ele.
Baseado nisso, temos que ter em mente com clareza:
– É impossível garantir que nosso stop vá executar no mesmo patamar de preço do disparo que configuramos. Logo, temos que saber e aceitar que o prejuízo poderá ser maior do que o que foi definido para o stop e isso é incontrolável. Ou seja, o spread entre o disparo e o limite é uma coisa que pode (e vai) acontecer naturalmente, independente de plataforma, corretora ou modelo de DMA.
– É coerente configurar os stops com uma margem de segurança entre o disparo e o limite, com objetivo de minimizar a possibilidade do stop disparar e não executar.
– É importante trabalhar com corretoras que apresentem maior estabilidade e velocidade no processamento das ordens. Mas repetindo: por mais estável e performática que a corretora seja, o spread entre disparo e limite vai acontecer em algumas situações, como a exposta nas imagens acima.
Para finalizar, não importa se você opera por tape reading ou análise técnica, se preenche a boleta na mão, envia clicando no gráfico (chart trading), no DOM ou através de mecanismos automatizados: as informações dos parágrafos anteriores são REALIDADE. Logo, é importante entender e se certificar:
– os mecanismos e padrão que sua plataforma disponibiliza;
– os parâmetros que você precisará configurar na sua plataforma para minimizar seus riscos e chegar o mais próximo possível da sua meta ou plano de trade;
– avaliar bem a corretora, seu funcionamento e ter conhecimento das regras de risco e zeragem da mesma;
– avaliar o consumo da liquidez do mercado no ato do disparo do seu stop, para entender o motivo de uma possível diferença entre o preço de disparo e execução ou até mesmo a não execução de um stop disparado.
Leia também:
http://blog.tryd.com.br/archives/4465
https://www.tryd.com.br/latencia/
https://www.tryd.com.br/infraestrutura/
Conclusão: Nem sempre o que é visto como um pulo de stop, é de fato um pulo. Muitas vezes a causa está relacionada com a volatilidade e/ou com os parâmetros definidos pelo usuário. Também podem haver casos relacionados à latência ou até atrasos de cotações, em casos de stop dentro do OMS/corretora ou na plataforma na máquina do usuário.